Falta de limitações na vida on line

Esses dias meu irmão me chamou para ver o orkut de uma conhecida, fiquei espantado com a quantidade de fotos no álbum da garota, a história dela tava toda registrada em imagens. Fiquei me perguntando o que faz uma pessoa achar que a vida dela é tão interessante a ponto de expor todos os seus momentos (incluindo os mais bizarros) na internet. Era foto do pai, da mãe, irmã, avô, avó, tio, sobrinho, vizinho, cachorro, papagaio, periquito, sem falar nas datas comemorativas onde os álbuns eram intitulados com frases do tipo “Meus quinze anos”.

Será falta de bom senso ou vontade de se sentir desejada? Tenho várias respostas para essa pergunta. Já fui adepto dessa vida on line por muito tempo, mais precisamente naquela fase entre os catorze e dezesseis anos, em que nem todos os holofotes do Maracanã são suficientes para suprirem a necessidade que se tem de aparecer. Ou postava uma foto por dia no fotolog ou morria, no orkut grande era a correria para virar pop (coisa que nunca fui). Até que um dia me perguntei por que fazia aquilo, e não encontrei uma resposta da qual me orgulhar. Perdeu o sentido. Pronto, fui lá e disse a deus a tudo, orkut, fotolog, flickr e tudo o mais que achei desnecessário, só não exclui o blog porque escrever é uma das coisas que mais adoro fazer.

Msn nem se fala, se fico on line e não falo com você, pronto, já é o suficiente para você morrer do coração. Ora bolas! Não sou obrigado, respeite o meu direito de não falar contigo quando eu achar que convêm, aí vou lá e bloqueio, bloqueio mesmo, e se reclamar mais um pouquinho excluo. Acho que sou a pessoa com mais facilidade de excluir contatos do msn que conheço. Geralmente detesto bater papo pela internet, uso o messenger na maioria das vezes quando preciso marcar algo com alguém, parece que quanto mais intimidade você tem na vida real com a pessoa, mais sem assunto você fica on line. Tem gente que tem a sala de aula inteira adicionada no msn, a pessoa vê o indivíduo todo dia e quando chega em casa ainda tem que agüentar aquelas conversas desnecessárias, coisas do tipo:


A pessoa: - Oi, tudo beeeem?

Eu: - Tudo bem, e com você?

A pessoa: - Tudo em ordem, que bom né?

Eu: - É...

(passa-se um espaço enorme de tempo)

Eu: - Olha, vou indo, abraço, boa noite.

A pessoa: - Boa noite, bj ;)


Se você não tem o que falar, por favor, não fale. Prefiro o telefone, pelo menos a gente só usa quando realmente tem algo a dizer. As pessoas me perguntam por que bloqueio tanta gente no msn, resposta fácil: Porque dessa forma só falo com quem eu quero e preciso. Se fico on line e falo apenas com uma pessoa, segundos depois começam a subir as janelinhas “ Não fala mais não é?” (Nada mais patético, implorar atenção). Para evitar esse tipo de interrupção, só adiciono quem acho valer a pena manter algum contato, e mesmo assim bloqueio todos. Quando quero falar com alguém vou lá e desbloqueio, e nem por isso deixo de amar meus amigos.

A vida on line virou um grande outdoor, todo mundo querendo mostrar que é o melhor, querendo aparecer, todo mundo querendo mostrar para o outro a vida que tem.


“Fulaninha adicionou três fotos ao álbum Eu em Tambaba”

“Na balada beijando muito acabou de entrar

“Paulo em novo momento alterou seu quem sou eu


O que me importa saber que você foi para Tambaba e tirou fotos mostrando a periquita a torto e a direita? Não me interessa saber se você está no seu momento pegador nem se seu novo momento já chegou. Tenho saudade da época em que os amigos marcavam de se encontrar quando queriam saber das novidades da vida um do outro, da época em que fotos eram tiradas para recordação e não para por no orkut, da época em que minha vida era para mim e não para os outros.


Essas ferramentas que a internet nos oferece são para somar e não subtrair. É preciso saber usá-las, caso contrário tornam os relacionamentos tediosos demais.


Antes que alguém se manifeste e aponte o dedo para mim, quero explicar que mantenho esse blog porque, como falei anteriormente, sinto prazer em escrever, e porque ainda encontro algum sentido na leitura de blogs. Ver a percepção de mundo num ângulo de uma outra pessoa te deixa um pouco mais tolerante e compreensível. Apesar de existir aqueles blogueiros que insistem em postar o relatório do seu dia, acho que a grande maioria ainda fala coisas lógicas, onde o mundo deles se encaixa no meu sem que eu tenha que saber que a criatura comprou um laptop, ta fazendo dieta, e mudou de casa. Acho mais deprimente quem visita a página dos outros para saber da vida alheia do que quem posta sua intimidade. Para essas novidades corriqueiras tenha os seus queridos, seus amigos e familiares, os que gostam de você de verdade, eles sim, se importam com as coisas do seu cotidiano. Aos demais, só importa o ponto em que o seu sentimento bate com o sentimento deles, o momento em que se concordam.


Walter Filho

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