Bem vindo onde estou

São cinco dedos em cada mão, dois braços, uma cabeça, um par de olhos, uma boca e duas orelhas. Um corpo e uma considerável distância da pessoa que quero ser e a que sou. Mas olho dentro dos meus próprios olhos e posso ver que aquela pessoa já existe e ta sentada dentro de mim. Já me debati e busquei ao meu redor por um eu que consertasse quem falhamente sou, mas sempre fui quem realmente quis ser, só não enxergava. Hoje sei que todo bem-estar que sinto por ser quem sou, vem de mim mesmo. E ao invés de me debater por quem não sou, de me cobrar e tentar estar sempre falando a coisa certa, fazendo a coisa certa; descanso na paz que meu eu falho me possibilita quando me pego desajeitado comigo mesmo. Sei quem quero ser, mas não posso viver na projeção de alguém que vive no futuro, porque o que resta sou eu, e eu sou mais importante aqui e agora. E isso não se aplica apenas a questões pessoais demais, mas também a projetos e ambições, até porque a pessoa que visualizo no futuro tem mais relação com a vida material que não tenho agora do que propriamente com qualidades ou deformações morais que posso ter. Se as grandes realizações que projetei pra mim estão lá no futuro, então que fiquem lá enquanto me dedico ao meu dia a dia aqui, encontrando felicidade na vida que tenho e não na que pretendo ter. A cobertura na praia, o carro do ano, o emprego bem remunerado e prazeroso, as viagens ao redor do mundo, as festas, tudo isso vai vir, desde que se tenha realmente paixão pelo que se deseja; desde que se corra atrás. Mas quando minhas ambições estiverem todas em minhas mãos não quero olhar pra elas e perceber que perdi a melhor parte, o hoje. E respondendo a tão famosa e quase inevitável pergunta de final de ano: O que você espera do ano novo? Eu copio a resposta do personagem Gustavo do filme Divã: Um futuro sem sustos!