Fui inventar de viver ...

...e acabei caindo na armadilha que eu mesmo criei. Tem uma coisa dentro do estômago, uma bolha subindo e descendo, uma vontade de por tudo pra fora, de chorar logo e de uma vez, mas nunca vem assim, não até agora, mas queria muito que viesse logo, só pra ver se fico logo livre disso. Mas isso que ta preso aqui dentro nunca sai assim, parece que espera o momento certo, como na última vez, que uma pergunta boba me fez desaguar na frente do computador feito idiota. Não é dor de amor não, mas passou perto, é parecido com isso, é quase isso, é a dor de quem sente inveja das coisas mais pobres do mundo que alguém pode ter e ainda assim sentir, é a dor de quem espera uma ligação só pra saber se você ta bem, mas ela nunca chega, é a dor de estar sempre sendo deixado pra trás de alguma forma, é a sensação de que as pessoas tão sempre encontrando algo, menos você. E tudo isso não é culpa de ninguém, principalmente dessa vez, é tudo culpa minha mesmo. Culpa, essa é a palavra. Não culpa por ter feito tudo o que fiz, até porque faria tudo de novo, saí do marasmo em que eu estava pelo menos por um curto período de tempo. É culpa por ser quem sou. Vontade de sair pedindo desculpa a todo mundo, ao moço da padaria por mal olhar na cara dele, ao cobrador do ônibus por nunca desejar bom dia, aos meus colegas de sala por não ser o palhaço que alegra todo mundo e que faz falta quando não ta presente, as meninas por não ser o charmosão simpático que todas querem pegar, desculpa ao mundo por ser assim impossível de se tratar sem chegar num ponto em que não se tenha pena. Eu juro, juro que queria ser mais alegre, despreocupado, diariamente leve, aquele cara bem resolvido cheio de histórias engraçadas e que sabe divertir sem ser chato, mas eu não sou. Tudo o que eu achava que era nem sou. E de repente tudo fica ruim, e tudo o que eu fiz foi mal feito, e todas as notas altas não foram merecidas, foram por pura pena, todos os sorrisos e atenções nas conversas foram por pena e não por interesse verdadeiro, e de repente me sinto assim, nem lá nem cá, no meio, sem ser nada, não sou ruim o bastante, mas também não sou bom o suficiente, sou apenas o que deu pra ser. E até esse texto vira uma merda, porque parece que tudo que fiz até esse exato momento foi uma merda. E quando é a gente que sente pena da gente? Isso é pior que tudo. Às vezes acho que ta escrito em neon na minha testa: solitário. E fica bem complicado alguém gostar de você quando nem você mesmo se suporta. Me pergunto em que evoluí, se a mesma carência que me fazia olhar grupos de amigos com uma inveja danada no olhar ainda ta aqui dentro. Eu sei que tem toda aquela história da solidão de cada um, de que todo mundo nasce e morre sozinho, até acredito nisso. Mas quando a solidão é do outro parece que é pior ainda. O que é que a gente faz quando tudo o que estamos precisando é de alguém do lado?

Você anda assim de cabeça baixa porque parece que a solidão é pesada demais pra carregar nas costas, não consegue ficar sozinho com você mesmo porque nem você suporta mais sua cara de vontade de fazer o que nunca fez, de querer tudo da vida de uma vez. Vasculha a agenda do celular de cabo a rabo procurando um número pra ligar, só pra alguém te escutar nem que seja só por hoje e nunca mais telefonar, e nem precisa te dá tanta atenção assim, só pra dizer oi e tchau, só pra você não ter que ouvir a voz do próprio pensamento porque você sozinho já é gente demais ocupando o mesmo lugar no espaço. Mas não tem ninguém, nunca tem ninguém, ninguém que possa vir na sua casa nem que seja só pra tomar uma água, assistir um filme, pra você nem falar das suas neuras, pra não chatear, pra não encher o saco e a pessoa sair correndo antes de você se sentir vivo de novo. Porque o momento em que ela vai embora é justamente naquele em que você começa a se abrir e ela percebe que você é um verdadeiro pé no saco, e ela não precisa de gente pé no saco do lado, porque ninguém é pé no saco, só você, só você pensa demais, só você sofre pelas coisas que sofre, só você tem trauma de rejeição sem nunca ter sido realmente rejeitado, pelo menos não da maneira mais drástica, do tipo que tem pai, mas o pai esquece que tem filho, mas existe uma maneira menos drástica? Sempre achei que solidão é sempre solidão, seja ela de quem for de qual forma for, é sempre um só que é demais, um só que enche uma casa inteira. Mas vai passar, sempre passa.

Comentários

  1. Que desabafo! Passou? Porque deve ser tudo impressão, deve ser um cara legal!

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