O demônio e eu

Quando a gente baseia a vida demais no que nos ensinaram e acaba se agarrando aquilo como se fosse a única verdade do mundo, as coisa uma hora ou outra tendem a se complicar. E o que era verdade de repente se mostra nem tão verdade assim. Ou no mínimo uma dúvida incrível paira sobre sua cabeça e daí você começa a se perguntar desde quando você parou de ver o mundo como você realmente o vê pra enxergá-lo da forma de outra pessoa. Desde criança escuto coisas do tipo: Não fala isso menino que é do demônio! Não faz isso que é do demônio, para de escutar essa música, é do demônio. O demônio tava bem presente na minha vida, mesmo que eu nunca o tenha visto ou o invocado, ele tava ali pairando sobre qualquer vontade que eu tinha que saísse um pouco do habitual aceito como normal pela minha família e pelo meio ao qual fazíamos parte. No fundo eu conhecia bem todas as vontades que tinha e as guardava comigo, nunca as deixei de lado, apenas as guardei pra o momento certo. Cresci e comecei então a fazer minhas próprias perguntas, elas passavam desde do por que fulaninho podia fazer tal coisa e eu não, até por que Deus não gostava que eu ficasse feliz. Porque tudo o que o demônio queria e gostava sempre me pareceu muito mais divertido e convidativo do que o que as pessoas diziam ser aprovado por Deus. Qualquer tentativa de me fazer feliz era imediatamente barrada pelo demônio. E assim ele, o capeta, o cão, o chifrudo, o coisa ruim, roubou muita coisa de mim. Momentos de minha infância e adolescência que poderiam ter sido bem aproveitados, ou foram vividos pela metade ou nem foram vividos tudo por culpa dele. Não que eu tenha sofrido ou odiado minha infância, de forma alguma. Mas que ficou um gostinho de que poderia ter sido bem diferente, ah ficou. Hoje depois de meio caminho rodado e meia dúzia de mal feitos bem feitos, me pergunto até que ponto vale a pena se resguardar do mal se privando tanto a ponto de parar de viver momentos incríveis pra não cair nas garras do demônio e agradar a Deus. E quem foi que disse que Deus não gosta disso e daquilo? Na minha época ele não gostava muito de gente feliz, nem de muita risada. Incrível, não imagino Deus assim. Alguém que me escuta o dia todo precisa realmente ter muito senso de humor, porque só rindo muito pra poder aguentar tanta bobeira que falo. Alguém que me entende tão bem tem que gostar muito de dança, música, gente e risada completa. Um Deus sem sensibilidade é inconcebível. No fim, o que eu acredito mesmo é que Deus é a favor dos sentimentos sinceros, de pessoas de verdade, que não usam uma roupa bacana, uma família aparentemente modelo (se é que existe modelo pra alguma coisa), um emprego, uma doutrina mal explicada, trechos soltos da bíblia e um caminhão de medo de ir pro inferno como desculpa pra viver uma vida medíocre. Leia-se medíocre aqui como falta de afeto, de autoconhecimento através dos outros, de diversão, de tudo o que possa te fazer sentir vivo. Até porque uma vida que nega a própria vida com a desculpa de que um ser que supostamente a criou poderia puni-la caso pretendesse vivê-la por completo, definitivamente é alguém medíocre. Tocar os limites é necessário. Então, resolvi deixar o demônio com os outros e hoje vivo tomando tudo o que um dia o demônio (ou seriam as pessoas?) roubou de mim. Não quero chegar no céu e descobrir que me preocupei tanto com o demônio que esqueci de viver a vida que Deus me deu.

Comentários

  1. Oi Walter, depois de um sumisso breve, eis que resolvi tentar voltar a essa vida de blogueiro, aos trancos, porque o tcc e o estágio consomem com meu tempo quase que integralmente. Mas os blogs me fazem falta, e se faz falta a gente tem que dar um jeito de voltar a fazer.
    Concordo com seu ponto de vista. Também ja deixei de aproveitar muita coisa em minha infância e adolescencia, por causa do que pode e do que não pode fazer. Agora, com meus 23 anos e prestes a alcançar a independencia (vulgo terminar a faculdade, arrumar um emprego e me bancar) quero aproveitar ao maximo, porque também não quero olhar para trás e imaginar que poderia ter sido melhor.

    Abraço

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  2. pra mim mudar é sempre assustador no começo, mas divertidíssimos depois.. hehehe.. sumi por um tempo, complicações pra me organizar com as aulas, trabalhos e o blog, hehehe, mas tô de volta.. gostei da tua reflexão amigo, eu não tive a infância barrada por conta do demônio ou coisa assim, não sei se pq minha família era mais "liberal" ou eu que não tinha nenhuma "vontade estranha", hehehe.. sei que vivi praticamente tudo que quis.. tb não levo muito em consideração certos comentários malucos de certas pessoas, não dá, assim a gente não vive.. beijos mil e ótima semana..

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  3. Walter! Bom estar aqui novamente! Tudo bem sim e contigo? Bem, comigo aconteceu algo semelhante quando ao que se pode ou não fazer e depois que eu passei dos vinte fui ganhando autonomia e confiança (especialmente comigo mesma)e dando passos por minha conta. A sensação de que perdemos muito as vezes é grande, mas sempre é tempo de mudar e aproveitar cada segundo em dobro ;)

    Abraço :)

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