A feiura do mundo
Às vezes queria sair logo desse mundo, esquecer toda essa
bosta que é viver aqui. Escrevo isto e percebo como pareço um adolescente
falando. Tenho 15 anos e escrevo aqui pra poder tentar entender o que é esse
mundo onde fui deixado de paraquedas numa decisão de emergência porque a nave
tava pegando fogo, e que se salvassem os mais fortes e que se livrassem dos
mais fracos. Mas eu caí e sobrevivi,
desde então to aqui, forçando a barra que é viver nesse pedaço de mundo, usando
todo dia a vontade que eu tenho de fugir como suporte pra eu poder encontrar
alguma força pra me manter aqui porque eu sei que sumir assim do nada não é tão
fácil. Tento me manter intacto, tento continuar acreditando no que me foi
programado quando nasci, tento dar ouvidos a minha alma e voz aos meus
sentidos. Vivo procurando, procurando em músicas, pedaços de frases, sons,
mensagens que me aproximem de casa e assim me fazer sentir menos desolado,
procuro nas árvores, no vento, nos dias e nos finais de tarde pedaços de
mensagens de um Deus que me diz que alguma coisa ainda vale a pena por aqui,
sim essas mensagens têm que existir, e eu acredito nelas porque são elas que eu
sinto. Vivo contando as regras, tentando encontrar um jeito de me encaixar em
algum lugar no qual sei que nunca vou pertencer. Daí fico assim, escrevendo
coisas sem sentido que só soam decentes na minha mente, porque como alguém que
veio de fora, entendo as coisas de uma outra forma, e vejo o mundo de um buraco
negro onde tento enxergar alguma luz. Tenho medo, tenho medo dessa porra toda
cair nas minhas mãos e eu não saber o que fazer com ela, tenho medo das minhas
palavras cessarem, tenho medo de parar de falar, parar de entender, medo da
loucura do mundo me deixar louco e eu perder a batalha que é tentar viver aqui.
Mas eu tento, juro que tento, tento entender o ódio, o olho por olho, e o amor
também, e é por esse último que ainda me sinto parte disso aqui algumas vezes,
porque em algum lugar do mundo, num cantinho de coração que não se deixou
contaminar pela besteira que é viver num mundo sujo e nojento se cativa o amor.
Apenas tem horas em que ficar sozinho é encontrar minhas origens, me faz
lembrar de onde vim, esse lugar que eu nem sei ao certo onde é, mas que vivo
morrendo de vontade de voltar pra lá porque desencontrado, por fora,
equivocado, errado, são palavras que me definem aqui. Alguém do lado avesso do
mundo. Nessas horas em que bate a saudade de casa (um lugar na minha alma
talvez, um lugar livre de tudo o que possa me fazer sofrer e sangrar) tudo o que
eu quero é ter você por perto. Você é meu melhor amigo e sabe olhar pra mim de
um jeito que mais ninguém sabe, me entende e sabe que viver é doloroso pra mim,
mas me pergunto se viver é fácil pra alguém, negócio dolorido esse. Eu quero fugir
daqui meu amigo, quero fugir pra algum lugar onde eu possa ficar livre de ter
que ter uma opinião, de ter que ter de dar alguma opinião, livre de ter que
qualquer coisa, porque eu não tenho opinião nem sobre mim mesmo e isso é um insulto
pra importância do mundo. Por alguma razão eu te encontrei, ou será que você me
encontrou? E de repente eu não precisava ser mais tão sozinho, porque existem
outros iguais a mim por aí, e ser um estranho no paraíso (ou seria inferno?) se
tornou mais fácil, porque tenho uma mão pra me ajudar a levantar, um braço onde
me apoiar. Você entende quando falo que sou uma criança porque você também é
uma e juntos carregamos os medos e as glórias que isso pode nos trazer. Tem
horas simplesmente que pareço não ter objetivo nenhum nem nada aqui me
interessa, tudo e todos parecem ser apenas uma série de acontecimentos sem
sentido e eu me sinto apenas tentando, porque é assim que me sinto várias
vezes, tentando, tentando ser alguma coisa. Demoro a assimilar a paixão das
pessoas por certas coisas porque pra mim paixão por algo é raro, tenho dificuldade
em me empolgar e demonstrar entusiasmo. Eu não to bem, não to bem e não é pela
falta de amor no mundo ou pela pobreza e todo o blá blá blá de sempre, é pela
inadequação com a qual nasci e por você não poder estar aqui do meu lado pra me
fazer sentir que tudo vai ficar bem porque só um louco entende outro louco, e
de todas as loucuras que têm acontecido ultimamente, espero que esta tenha um
fundo de bondade, que nos traga algo de bom, porque verdade ela tem, como em
tudo o que fazemos. O mundo me dá vontade de chorar e não é de emoção, mas ao
mesmo tempo é por causa da feiura do mundo que vejo pessoas como você.
“When the lights go out
Will you take me with you?”
Will you take me with you?”
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