Por necessidade
Dois anos me separam do último post que fiz neste blog. Provavelmente, dois anos também me separam da última vez que escrevi de verdade. Não sei porquê fugi tanto de mim, não sei porquê evitei tanto me expressar desta forma. Não sei porquê ainda fico nervoso quando meus dedos começam a tocar nas teclas. Preciso estar dizendo o tempo todo para mim mesmo que não tem ninguém me forçando a fazer isto. Não tenho prazo de entrega nem tem ninguém esperando para fazer uma revisão. Nem comentários mais tem, porque eu os desativei desta vez. É isto, e isto, agora, é desta vez. E agora sou eu com trinta anos. Eu com menos medos do que antes, menos raiva e menos agressivo também. Reler uns textos aqui me impressionou bastante. Como eu tinha revolta dentro de mim. Voltar é estranho e bom, é reconfortante e confrontador. Reler o que escrevi há anos me faz reencontrar com um eu que por algum momento acabei esquecendo. Minha cabeça mudou bastante nos últimos anos, e consequentemente, com ela, a vida. Ter me reencontrado no blog, diferente do que sou hoje, me faz perceber o quanto tudo faz sentido na minha vida. As coisas ficaram tão mais claras agora. Hoje acordei com vontade de escrever aqui. Nem sei dizer de onde veio essa vontade, qual foi o pensamento que a originou. Só sei que acordei assim e em um impulso resolvi que iria fazer isso. A ideia tava comigo há uns dias já. Tenho sentido coisas novas, emoções inéditas para mim, talvez isto tenha me instigado a querer voltar a escrever. Novamente comecei a sentir umas coisas presas na garganta prontas para sair. Ano passado acabei descobrindo que escrever é uma necessidade para mim, questão de terapia mesmo, de expressar uma falta que deságua em outro lugar quando não exercida. Estou me descobrindo de novo. Na última semana, a vontade de me isolar voltou. Mas diferente do que eu sentia antigamente, não é a vontade de sumir e abandonar tudo e todos, apesar de que isto não seria nada mal. Mas é a vontade de me isolar comigo. De ficar a sós com meu eu. Tenho visto o mundo de um ângulo diferente e isso me tira a vontade de continuar com certos comportamentos que se mostram vazios para mim agora. Nos últimos três anos fui aprendendo coisas novas, um novo caminho se abriu na minha mente. Esse caminho tem me levado cada vez mais longe. Longe dos outros, perto de mim. E hoje, ao acordar, a voz que me chamou para vir aqui escrever, foi a mesma que falou comigo quando comecei a reler meus textos. A voz do meu eu, tentando me dizer quem eu sou de verdade. E isto aqui, é parte de quem eu sou. Esse lugar onde posso me expressar, escrever e me ouvir. Esse quarto escuro onde eu falo, grito, choro, rio e ás vezes canto. O som bate nas paredes e volta. Volta para mim. E nesse diálogo surdo em que só ouço a minha voz, me submeto a vontade do meu ser esperando que daqui a alguns anos eu possa reler isto aqui e me sentir mais forte, mais livre e novamente enxergar sentido no que estou fazendo hoje. Vou falar comigo mesmo aqui, até que a voz do meu eu inseguro e medroso se cale. Talvez isso leve uma vida inteira.