Tem dias que escrever bonito simplesmente não sai

Olhei para minha cachorra e tive vontade de chorar. Tive pena dela. A inocência do animal me dá pena. Talvez fosse mais fácil de lidar com a vida se eu fosse inocente e de pensamento limitado, como um animal. Mal to conseguindo lidar comigo hoje. Queria chorar para melhorar. Para aliviar a alma. Estou desinteressado, mas ando fingindo interesse. Perguntei para um amigo como está sendo a viagem dele. Não sei se eu realmente queria saber como estava a viagem. O que senti mesmo foi inveja dele hoje pela manhã. E aí veio a vontade de chorar. Mas o que sinto agora não é por causa da inveja. Não é porque o mundo ta ruim ou coisa parecida. Nem sei explicar o porquê do quê. Me sinto entediado, cansado, com sono e preguiça de tudo. Quero fazer tudo e não quero fazer nada. Não quero falar com ninguém, mas queria falar com alguém. Mas quem? Se todo mundo ta me cansando. Pensei em te ver, porque sei que quando estou com você sempre acabo melhorando. Gosto de encostar minha cabeça no teu ombro e ficar ali, esperando tudo passar. Mas não quero te ver. Não sei dizer o porquê. Mas faz parte do não querer fazer a mesma coisa que faço sempre. Faz parte do não me sentir uma boa companhia nesse momento, não querer ter interesse em conversar sobre as amenidades que sempre conversamos. Não me entenda mal, adoro conversar com você. Mas no momento algo me impede de ter essas conversas. To cansado e enjoado. Não queria sair de casa pelo resto do final de semana, mas vou precisar. Eu sei que eu deveria sair dessa. Que eu deveria me esforçar um pouco mais para ficar bem. Sei que eu deveria sair de casa nem que fosse para cumprir obrigações, isso me ajudaria a me distrair. Sei que eu deveria querer te ver, me esforçar e ir, e conversar sobre as amenidades de sempre porque são elas que vão me fazer desfocar de mim. Sei que deveria querer me deitar no teu ombro porque eu me sentiria novo. Mas eu não to com paciência para nada disso, por mais legal e bonito que tudo isso possa parecer. Não sei até onde devo levar minha sinceridade, até que ponto falar o que sinto pode ser benéfico para mim, para nós. E isso aqui nem era sobre você. Mas talvez seja. Desde que você entrou na minha vida tudo tem sido sobre você, também. Já não posso mais me anular como antes porque agora tenho você para não magoar. Eu sou uma complexidade só. Entre a vontade de ficar e a de fugir, vou escolher me esconder. Entre me esconder e agir, prefiro fugir. Não digo "não tente me entender" porque isso é o que eu justamente quero. Não vou mais mentir para mim. Já descobri que tenho um gosto problemático por atenção. Que me escondo na minha modéstia e discrição enquanto menosprezo comportamentos excessivos e exibições que julgo serem desnecessárias porque aquilo é justamente o que eu queria estar fazendo. Do que mais ando me escondendo fora minha necessidade de reconhecimento? Talvez minha necessidade de exílio fale mais sobre minha necessidade de ser estrela em um palco só meu do que sobre minha preferência descompromissada pela solidão e melancolia. E essa independência desenfreada que só me deixa mais intolerante? E essa vontade de comer doce do nada? E essa vontade de gastar dinheiro? E esses problemas inventados? Preciso ser sincero comigo. Preciso ser sincero comigo. Se eu for verdadeiro o suficiente, vai doer, mas vai curar e libertar.