Confuso pra caramba

O que a gente faz quando não sabe sobre o que escrever? A gente escreve sobre a dificuldade em escrever. Faz da situação um tema. Eu tinha um texto pronto na mente, mas ele se perdeu entre as tarefas domésticas. Entre lavar uma roupa e outra o texto se foi junto com outros tantos pensamentos pelo ralo da lavanderia. Mas era algo sobre minha dificuldade em fazer as coisas que estão na minha mente. Em concretizar as ideias. Este seria o tema porque foi algo que me tirou a paciência hoje a tarde. Um mini ataque de desespero contra mim mesmo. É triste quando temos que lutar com nós mesmos. A pior das lutas, sempre. A mente fala tanto e fica tentando por a gente para baixo e se você não barrar o fluxo a coisa se complica e acaba caindo em uma espiral louca de desespero e auto desvalorização. Estava evitando falar deste tema justamente por isso, não queria dar atenção a ele. Pensava que quanto mais pensasse ou escrevesse sobre isso, mais disso eu teria. Mas agora estou diferente. Sim, uma hora se passou e me sinto outra pessoa. Tomei um banho, coloquei uma música boa para tocar, toquei uma punheta (ás vezes tudo o que a gente precisa é de uma boa punheta). A questão é que a agonia, a impaciência, a auto piedade e vitimismo foram embora junto com a água do banho e meu espírito se elevou novamente, me energizei. Tenho procurado levar a sério a coisa do ser gentil comigo mesmo. Não é nada fácil. É meio viciante se auto depreciar. Principalmente quando o mundo ensina que estamos sempre fazendo pouco, sendo pouco, exigindo pouco de nós mesmos. Mas pouco para quem? Pouco para o quê? Não sei quantas vezes ainda vou ter que me acalentar como fiz hoje. Seja de uma forma ou de outra, preciso me por no colo, passar a mão na minha cabeça e dizer que está tudo bem em não ter controle de nada, em não saber o que fazer. Que está tudo bem em ser assim pequeno e limitado. Que preciso aceitar minha infinita limitação. Pensar nisso me dá vontade de chorar. Não é estranho um dia acordar e descobrir que você não controla nada? Que tudo o que te ensinaram sobre ter uma casa própria, um carro, um curso superior, um emprego estável, uma vida aparentemente equilibrada, tirar férias ao menos uma vez ao ano, viajar, conhecer o mundo, que nada disto te faz ter o controle da sua vida? Que um dia você pode acordar e tudo estar fora do lugar. Que o dinheiro salvo a duras penas no banco não pode te salvar se uma topada resolver te matar, se uma veia estourar na sua cabeça agora, bem agora. Que a educação superior não é o suficiente para te fazer saber algo realmente relevante, que diante do universo o que você sabe é nada, nada, nada. Que a história que te ensinaram na escola e na igreja é toda deturpada. To no meio de uma fase. Ás vezes dá vontade de morrer. Ou ao menos que tudo acabe logo. Ás vezes cansa, cansa demais. Cansa ter que ser. Cansa ter ideias e travar na hora de colocá-las em prática. Cansa o esforço mental que faço para me superar a cada dia. Talvez a única coisa que realmente temos que, é ser e estar bem no meio das nossas fraquezas. 



"Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?" "Eu não vejo", retomou a Lagarta. "Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso." LEWIS CARROLL - Alice no país das maravilhas