A bússola interna

 



A bússola é interna. Essa frase me veio à mente enquanto eu refletia sobre as decisões que tomei no passado. É que, de vez em quando, me pego comparando minha vida com a de alguns colegas, e quando faço isso, penso que demorei a amadurecer.

A maioria dessas pessoas eu admirava pela maturidade com que elas lidavam com certos aspectos da vida. Penso que elas, por exemplo, tiveram mais resistência do que eu para enfrentar as dificuldades da área profissional. Não saíam dos empregos só porque estavam infelizes.

Mas nessas horas sou duro o suficiente comigo para esquecer que o problema era justamente esse. Quem estava infeliz era eu, não elas. O emprego que elas tinham, era a forma que encontraram de abrir seus próprios caminhos. Eu precisava encontrar o meu.

Eu me permitia sair dos empregos que sugavam minha saúde mental porque eu sabia que, na casa dos meus pais, pelo menos um teto e um prato de comida eu iria ter, mesmo sabendo que a minha liberdade seria limitada pela falta de dinheiro.

É que chega uma hora em que você percebe que não tem salário que pague o seu bem estar. E eu nunca fui de me submeter a coisas que me deixam infeliz. Sempre fui radical na hora de tirar da frente o que não me fazia bem, mesmo que isso significasse ficar sem grana.

Procurar se orientar pela bússola interna é difícil, porque na maioria das vezes ela nos manda nadar contra a corrente, e as decisões que ela sugere quebram o nosso ego em diferentes pedacinhos.

Não é fácil assumir as consequências das próprias decisões, principalmente quando elas não envolvem um retorno financeiro. Até hoje, a sensação de não estar avançando me consome por horas. Mas a questão é que quando a velocidade está muito alta, não percebemos o quanto já nos movemos, a sensação de estagnação é apenas sensação.

Por mais que, de vez em quando, eu questione o meu passado e tente me convencer de que não existe mérito nenhum nas minhas decisões, já que não me tornei bem-sucedido em nada, pelo menos tenho a certeza de que fiz minhas escolhas buscando também uma realização pessoal, não apenas material, e sem focar tanto no que as pessoas iriam pensar de mim.

Com um pouco mais de calma e reflexão, percebo que a comparação é injusta, porque além de ignorar os pormenores da vida de cada um, ela também se faz indiferente à voz interna, que tenta a todo custo ser ouvida, por mais que em alguns momentos tentemos nos fazer de surdos.

Quando olho para o passado com uma visão carregada de julgamento, esqueço que eu estava fazendo o que me parecia ser melhor para mim. Estava me orientando pela bússola interna.

Já tentei por diversas vezes ignorar essa orientação, porque o que a sociedade dizia que eu deveria correr atrás me parecia ser sempre mais atraente para o meu ego: iria me fazer famoso, reconhecido, ter muito dinheiro. E tudo isso antes dos trinta.

Mesmo que eu pudesse ter tomado as decisões diferentes e tivesse conquistado as coisas que diziam que eu deveria conquistar, ainda assim, acredito que hoje eu estaria no mesmo lugar que me encontro agora.

Porque a mesma situação que se apresentou no passado, e que me fez querer mudar de rumo, continuaria a se apresentar, e eu seria impelido, de uma forma ou de outra, a tomar as mesmas decisões.

Não vale a pena insistir em algo em que o seu coração não está. Eu só teria mais sofrimento. E por mais que de vez em quando eu me pegue olhando para o passado querendo encontrar pontas soltas, admito que não tem.

Acredito que eu dei a volta que eu precisava dar nas experiências da vida para que eu pudesse ter a consciência e o conhecimento que eu tenho hoje. Não, eu não estou no lugar errado e não estou atrasado, porque não tem ninguém adiantado.

As coisas são o que são, e o que nos resta é aceitar o que temos com o melhor da nossa paciência e gratidão, porque é a consciência adquirida que vale o esforço, as dores, as alegrias e as tristezas de todas as experiências passadas.

É sobre quem eu sou, e não quem eu fui. E por mais que em alguns momentos seja difícil admitir isso para o meu ego, que insiste em se comparar de vez em quando, eu sou bem feliz com a pessoa que me tornei. E sim, o mérito é todo meu.

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