E se?


Inconstante, frágil, indisciplinado, confuso. To sempre querendo me acertar, mas parece que quanto mais tento me mover mais me afundo em confusão. To tentando me orientar, procurar uma bússola, seguir uma luz. Ás vezes consigo, ás vezes não. Sigo tentando. Nunca me pareceu muito certo ser quem eu sou, mas agora toda a incerteza e o deslocamento que eu sentia quando mais jovem, me parecem tão...Certos. Tudo está correto, mesmo parecendo assim tão bagunçado. É tão evidente a confusão interna que todos os meus textos saem assim meio cuspidos, meio sem ordem, sem nexo, um assunto que entra no outro sem ter muita coerência. Mas é a forma que preciso me expressar, se eu for parar e analisar as frases, fazer ligações lógicas entre elas, nunca iria escrever uma linha sequer. Ainda paro na frente do computador e fico olhando o ícone do Word aberto. Não movo um dedo em direção ao mouse para abrir a página em branco, não teclo um ai para expressar nem que seja uma dor. Eu preciso, eu sei que eu preciso escrever, mas algo em mim me prende cada vez que tento fazê-lo. Poucos são estes momentos de impulsividade em que me deixo levar e não pensar demais. Apenas abro o arquivo e vou despejando tudo o que preciso. Será que realmente mudei tanto assim desde os meus 15 anos? Será que a segurança não é apenas aparência forte forjada a duras penas para se manter equilibrado nem que seja por fora? Porque por dentro ainda sinto que aquele menino inseguro insiste em aparecer de vez em quando questionando minhas capacidades, me olhando com medo, assustado pelo medo de poder ser melhor e ao mesmo tempo o medo de não ser assim tão bom quanto imagina ser. Mas to aprendendo a lidar com ele, dia após dia vou tentando calar essa voz insegura de criança frágil. Abafo o som do seu choro e me coloco na frente, me forço e me empurro, e tem dado certo. Eu tento ir devagar, sei que não vou mudar da noite pro dia, mas o menino ao mesmo tempo que tem medo também tem pressa e me faz pensar que estou perdendo tempo. Mas é por ele que perco tempo. É pelo medo que ele tem de se expor, de sair das sombras dessa marquise em que ele vive. E por ele dou dois passos a frente e um para trás para pegar sua mão e mostrar que não é tão ruim assim sair do canto. E quando estou mais dois passos a frente, sinto a mãozinha puxar minha camisa, me viro e o mesmo olhar assustado me encara como quem diz “será mesmo?” E aí eu olho para a frente e paraliso. Paraliso porque percebo que não sei bem para onde ir, sei que tem uma luz, mas apenas ela e mais nada, não tenho mapa, nem trilha, nem caminho com pedras douradas. Mas eu estou bem. Eu juro que estou bem. E não é mentira. Parei de mentir para mim mesmo desde os 23. Estou tentando elevar o menino ao máximo que eu posso, tirar ele dessa inércia. Mas é sobre a inércia que me pergunto. Meu Deus, como tenho questões. Eu encontro a solução e o menino rebate com outra dúvida. E assim as questões nunca acabam. Quem sabe se eu parar de pensar? Quem sabe se eu parar de exigir tanto de mim e do menino? Quem sabe se eu abraçar sua insegurança assim como já o abracei tantas vezes? Quem sabe se eu o tomar no meu colo e junto com ele me tornar um, tomar sua insegurança para mim, caminhar com ela lado a lado, a acalentar, admitir, engolir, olhar de frente, encarar no espelho, digerir, mastigar, absorver. Quem sabe assim eu pare de ser tão inconstante e tenha força para agir com vontade. Mas, e se tudo isto fizer parte de um plano maior em que se eu me mover com muita vontade agora, tudo se desmorona ao meu redor?