Me contradizendo


Eu não sei se eu deveria escrever sobre você agora. Eu não sei de mais nada. Cada vez que abro a boca e afirmo algo sobre mim e o mundo, vem a vida e me cala, e me mostra que eu tava errado e me faz pagar a língua. Foi assim com você, foi assim com a gente. Paguei a língua diversas vezes em um prazo de cinco meses. E agora eu já nem sei mais quem sou e do que gosto, do que como, do que fodo, do que beijo, do que cuspo. Porque até eu fazer não vou saber. Talvez essa tenha sido a grande lição de nós dois que ficou em mim. Talvez você tenha entrado na minha vida para me ensinar isto, me esfregar na cara que eu não sei nada de mim ainda, e que o que sei é superficial e pequeno diante da prática. Não quero ser incoerente comigo. Não quero ser hipócrita de mim mesmo. Por isso vou ficar mudo, vou me calar. Vou deixar pra falar depois que as coisas passarem, depois que eu viver. Quem sabe assim eu pague menos a língua. Esses dias têm sido estranhos. Tenho vacilado entre algo parecido com saudade e o tédio sem fim em que de repente me encontrei sem você. Mas eu apenas acho que é saudade, porque essa é mais uma daquelas coisas das quais não quero mais pagar a língua. Eu realmente apenas acho. Acho porque quando lembro de certos aspectos da tua personalidade sinto preguiça de você e fico feliz por termos terminado. O que sinto falta é do que você me proporcionava. As saídas, a sua companhia quando você estava bem, a sua felicidade ao me ver, o fazer coisas juntos... Ai que preguiça de entrar nessa linha de texto, de falar de você assim... Sei lá, sabe como é? Como quem fala do ex apontando os defeitos ou fantasiando as situações que vivemos. A gente sabe que isso não tem sentido nem fundamento. Se estivéssemos juntos agora, estaríamos ambos saturados, assim como vínhamos nas últimas semanas. Eu tendo que arrastar você e a mim. E você idem.