Quase tudo é medo

 



Você tem medo de quê? De perder o emprego, de não ser aceito, de ser descartado, de ouvir um não, de ouvir um sim. De ficar pobre, de ficar rico, de perder tudo, de ganhar nada. De não ser livre, da liberdade que responsabiliza demais, de ouvir a si mesmo.

Eu já tive medo de tanta coisa, todo dia um diferente. Já tive medo de dormir sozinho e das coisas que eu sonhava quando dormia. Já tive medo de ser pego escrevendo escondido quando criança, já tive medo de não ser incluído, de não fazer parte dos menininhos idiotas da escola.

Já tive medo de ir para a escola, medo dos mesmos menininhos idiotas da escola. Já tive medo de tirar nota baixa na prova, de não passar de ano, de não conseguir mudar, de ficar ali para sempre. Medo, medo ,medo.

Medo de não ser aceito, de vez em quando ainda bate esse medo, assim como o medo do que você vai entender quando ler este texto. Tenho medo do que a sua opinião vai dizer de mim. Parece fraqueza dizer que se importa com a opinião dos outros, né? Mas fraqueza é não admitir o que se sente, porque aí a gente cria uma máscara que nem a gente consegue carregar, e que nos sufoca.

Medo de altura. Medo de morrer na montanha-russa, eu achei que ia morrer ali na primeira vez em que andei. Já tive medo de perder alguém, dela sair da minha vida e eu nunca mais voltar a vê-la. O medo se realizou e eu sigo vivo, só que agora, sem o medo.

Curioso como nem os medos da gente a gente é capaz de saber de fato quais são e quanto tempo vão durar, porque o que antes me amedrontava, hoje nem cosquinha mais me faz. A minha cabeça precisa de ordem, de certezas. Fora disso, quase tudo é medo.

E eu tenho medo de ficar assim para sempre, novamente. Medo do futuro. Medo de ficar parado, mas também um medo sem fim de avançar por não saber qual o passo seguinte do próximo passo. Medo, medo, medo.

Tenho medo das amarras que eu mesmo criei para mim. Medo de nunca me livrar delas. Medo de viver uma vida pensada pelos outros mesmo quando já não houver mais vínculos físicos que me prendam a ninguém. Medo de cair na ilusão das amarras mentais. Preciso me libertar, preciso me libertar, preciso me libertar.

Medo de não fazer o que o meu desejo mais íntimo me pede para fazer. Medo de ser igual, de cair na mesmice, medo de ser aplaudido por gente que não entende nada de gente, de vida, de sensibilidade. Medo de servir de escada para babaca.

Medo de ser feito de bobo. Medo de trazer de volta o Waltinho assustado que tinha medo de ir para a escola, que se escondia pelas ruas mais vazias não só porque elas eram mais bonitas, mas também para fugir dos meninos que não cansavam de chamar ele de viadinho. Que estranho ser sozinho, mas essencial.

Talvez o maior medo hoje seja o de não conseguir pegar aquele Waltinho no colo e dar um abraço apertado, aquele que tantas vezes ele precisou quando chorava sozinho voltado para o canto da parede antes de dormir. Abraçar ele e dizer que vai passar, sempre passa, por mais doloroso que seja, por mais demorado que seja, sempre passa.

E que ele vai saber, lá na frente, porque ele teve que passar por tudo aquilo, porque vai valer a pena, vai sim, e se ele silenciar a própria voz e escutar o que só ele pode ouvir, ele vai entender o que só a vida é capaz de dizer através dele mesmo: eu amo você.

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