Um Shopping Center Cheio de Vazio

 



Tem dias em que mergulho em minhas reflexões e elas ficam me puxando para baixo, e aí eu fico pessimista porque não consigo enxergar sentido nas coisas. E eu sei que isso é apenas a forma como de vez em quando costumo enxergar a vida.

Hoje é um desses dias. Eu estou sentado no meio do corredor de um dos shopping centers da minha cidade e alguns minutos de reflexão me dão a impressão de que tá tudo derretendo.

As lojas, as roupas, a grana nos caixas das lojas. Tá tudo derretendo. Tudo acabando, devagar, mas sem parar, derretendo, se deteriorando. Eu mesmo estou morrendo, aqui, agora, sentado nessa poltrona, observando que nada é nada, me perguntando como vim parar aqui, como viemos parar aqui.

A coleção nova já nasce velha. As vendedoras são obrigadas a vender e a gente induzidos a comprar. Me pergunto o que estamos fazendo das nossas vidas. A música tocando de fundo em todo o shopping dá o tom da ilusão que alimenta nosso desejo descontrolado, nossa vontade de mais e o frágil fio que sustenta nosso ego, antes que ele desmorone porque não conseguimos comprar o último celular ou porque o fulaninho disse que eu era feio.

A ilusão de identidade que atrela a um produto aquilo que eu sou. Um produto que eu e mais vinte mil pessoas terão um igual. É, eu nem sou tão autêntico assim. A ilusão que apaga o ser.

Impossível não querer morrer em um mundo assim. Todos os dias morrer. Porque só morrendo e renascendo diariamente para poder ter alguma fé em algo, em mim. A inocência e a ingenuidade do recém chegado, só ela é capaz de alimentar a esperança de que a vida pode ser melhor, de que ela uma hora vai melhorar. Vai? Quando?

A ilusão de prosperidade, da vida plena e feliz, do afeto que se compra. Não te cansa as vitrines decoradas de verde e vermelho todo dezembro, tudo rosa em maio, e de repente em outubro todo mundo tem que comprar brinquedos, realmente não te cansa? A vida é só isso? Um grande shopping center onde eu escolho com qual look devo morrer?

E agora já nem sei se vou postar esse texto. Não queria compartilhar negatividade e pessimismo. Queria deixar você, a pessoa que lê meus textos, com um gostinho bom no final da leitura. Aquela sensação boa que dá vontade de viver, mas assim como nem sempre consigo ser otimista comigo mesmo, também não consigo fazer isso sempre que escrevo.

Talvez isso aqui nem fosse para virar texto. Nem tudo é para ser visto por olhos estranhos. Nem tudo merece ser compartilhado. Nem tudo em mim é bom, nem tudo em mim presta, assim como nem tudo no mundo é ruim e vazio de sentido.

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