Eu não vou mais esperar
Eu tinha um colega que costumava ter bastante espinhas no rosto durante a adolescência. Em conversa comigo, ele contou que quando era mais novo, acreditava que a sua vida seria bem melhor sem as espinhas, que se sentiria mais bonito e confiante, ficaria mais atraente, e por consequência, seria feliz.
A questão é que depois de um longo e doloroso tratamento para acne, as espinhas tinham sumido, mas o que não tinha ido embora era a falta de autoestima e amor próprio. Hoje eu lembrei dessa conversa porque me peguei procurando defeitos no meu rosto em algumas fotos minhas.
Me percebi pensando que vou ficar satisfeito quando eu finalizar o tratamento dos meus dentes, nos quais usei aparelho durante onze anos, mas ainda faltam alguns ajustes para finalizar a parte estética.
Pensei nisso e logo me veio a lembrança da conversa com meu colega. Meu argumento logo se desfez e eu percebi que o momento de ficar feliz com quem eu sou é agora, ou nunca mais.
Há alguns anos, quando eu ainda lutava com os afastamentos dos meus dentes causado pela movimentação do aparelho, eu dizia para mim mesmo que quando eu o tirasse, aí sim, eu seria feliz de verdade, realizado e finalmente satisfeito com a minha aparência.
O dia de tirar o aparelho chegou, e hoje eu ainda insisto que falta algo. E se eu continuar pensando assim, sempre vai faltar. Sempre vai faltar porque não há procedimento estético que supra a ausência de amor próprio. Não tem cirurgia plástica que preencha um coração vazio de si mesmo. Quando a gente não se aceita, qualquer coisa abala nossa confiança.
A falta sempre vai existir. Se eu procurar, sempre vou encontrar algo pelo qual ficar insatisfeito; seja na minha aparência, na minha casa, na minha rua, na política, no mundo. Sempre vai faltar algo, porque é assim que fomos ensinados a pensar e sentir. Para o sistema funcionar, algo sempre tem que faltar, e isso significa te deixar insatisfeito com quem você é, o tempo todo.
Não sou contra cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, mas sou contra a crença de que só seremos felizes e completos quando tivermos o corpo, a pele, o sorriso, que dizem que devemos ter. A vida não espera você se produzir para acontecer.
A vida não espera seus dentes estarem em ordem para te dar os motivos certos para sorrir. Ela não espera você entrar no shape para te dar os melhores dias de sol para você aproveitar a praia, nem muito menos espera que você adquira confiança em se comunicar para te dar as melhores oportunidades de socializar.
A vida não espera a gente estar pronto. Ela acontece no susto, no improviso, do jeito que dá. É você quem tem que estar atento, de braços abertos, seguro e confiante para poder aproveitar cada oportunidade, sem ficar achando que o melhor ainda está por vir.
E o melhor até pode estar por vir, mas ele ainda não está aqui, e é no aqui que as coisas acontecem. É aqui que você sorri com os dentes que tem, que sai para encontrar os amigos com o rosto cheio de espinhas e precisa dar um jeito, sim, de ser feliz do jeito que dá para ser.
E já que a vida não espera por mim para acontecer, eu decidi que não vou mais esperar. Não vou mais esperar ter os dentes perfeitos para gargalhar das piadas dos meus amigos ou abrir meu sorriso em fotos. Eu é que não vou mais esperar o momento ideal para começar a viver.
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