Problema meu
E se o errado for eu? E se o mundo inteiro estiver certo, se tudo estiver certo e eu estiver errado? Eu e meu não gostar de nada. Eu e minha repulsa por quase todo mundo, minha vontade de emudecer e sumir. Eu e meu desejo de escapismo o tempo todo. Essa vontade louca de não dar satisfação. Eu e essa sensação de não caber em lugar algum. De não me encaixar nunca. Eu e tudo é pouco. Eu e meu ego, meu autocentramento, minha cegueira do mundo. Eu não quero ver. E se o errado for eu? Minha vontade de chorar do nada no meio de uma multidão, minha vontade de caminhar na praia, mas também minha angústia por estar andando no meio de tanta gente estranha e esquisita. Meu achar todo mundo estranho e esquisito. É porque o esquisito sou eu. Meu nunca estar satisfeito. Meu, eu, meu, meu, meu, eu, meu, tudo meu, tudo eu. Eu no começo, no meio e no fim. Sempre foi assim. Eu como centro da minha vida porque sou a única coisa que me cabe tentar entender. Minha revolta do mundo. Meu arrastar de correntes. Meu desinteresse total por toda e qualquer coisa. Meu interesse por tudo e nada. Minha falta de entusiasmo. Minha falta de fé. Meu controle desmedido. Meu não saber relaxar. Minha tristeza. Meu eterno querer morrer. Meu nunca querer ir para lugar nenhum. Meu me trancar. Meu me deixem em paz. Escrevo para tentar me entender. Não espero que ninguém me entenda, basta a mim, o dever de me resolver. Eu queria paz. Não precisar mais de nada, nada, nada. Mas e se o problema for eu? O problema sou eu. Por que você é assim? Uma amiga me perguntou um dia. Assim, como? Insatisfeito? Inconformado? É que o problema sou eu.