Orçamento base zero
Há uns dois anos, quando eu li o livro Essencialismo, me deparei com o conceito de orçamento base zero. Um termo utilizado na administração para designar uma abordagem na gestão financeira, onde todos os gastos do ano anterior de uma empresa são ignorados na hora de criar a previsão do orçamento para o ano seguinte.
Desta forma, qualquer despesa nova precisa ser bem justificada, defendida e aprovada quanto à sua necessidade a fim de fazer parte do orçamento. O objetivo é descartar o supérfluo, eliminar gastos desnecessários e garantir o crescimento e a saúde financeira da organização. É eliminar o passado e começar do zero.
Nos últimos dias, esse termo, orçamento base zero, tem me vindo muito à mente. Sempre gostei da ideia de cortar o desnecessário e me apegar ao que é real e ao profundo, ao essencial, o que de fato tem valor.
E com isso, alguns desejos meus têm sido questionados. Tenho posto em julgamento as coisas que eu realmente quero para mim. O que espero obter no fim da minha vida, o que quero ter alcançado, material e espiritualmente, como ser humano. De que forma desejo contribuir para o crescimento das outras pessoas, já que sem isso, seria uma vida inteira sem propósito de ser.
E para não viver uma vida sem propósito, penso que em algum momento teremos que enfrentar esses questionamentos, que na maioria das vezes causam um incômodo terrível na gente. Ninguém gosta de pensar que vai morrer, muito menos no que está fazendo da sua vida hoje para que o legado que será deixado, seja de algum valor não apenas para si, mas também para os outros.
E não leia legado como herança, são coisas diferentes. Quando me refiro ao legado, me refiro ao rastro de tudo o que fizemos em vida. Eu mais ajudei e facilitei a vida dos outros ou mais atrapalhei? Um exercício por vezes doloroso de se fazer, mas altamente necessário, porque é preciso saber o que se quer.
Porque quando não se sabe o que se quer, qualquer coisa serve, qualquer coisa entra pelos ouvidos, pela boca e pelos olhos. Te absorve, e quando você viu, você está repetindo os comportamentos e os pensamentos que nem eram seus. Quando você viu, você está apenas querendo o que te disseram para querer.
E o que é que eu quero? Orçamento base zero para descobrir. Orçamento base zero nas minhas concepções de vida, nas minhas ideias preconcebidas do que é certo e errado. Orçamento base zero nas coisas que eu desejo para mim, nas conversas inúteis que tenho diariamente nas redes sociais. Nos filmes que vejo, nas músicas que eu escuto, nos livros que eu leio, na comida que eu como. Orçamento base zero na vida, para eu saber qual vida eu quero ter.
Com tudo posto à prova, em pleno julgamento, todas as relações, hábitos e valores vistos de longe, escritos em uma folha de papel. Qual deles me satisfaz de verdade? Qual deles eu digo gostar, falo que está bom, por puro medo de não incomodar, de não me colocar o peso da mudança que a insatisfação traz? Por onde eu quero recomeçar, dessa vez, do zero?
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