Sinta-se em casa
Vou te propor um exercício de imaginação. Eu poderia até te pedir para fechar os olhos agora, mas seria impossível de você continuar lendo este texto, então apenas imagine, mas também faça um esforço para sentir.
Imagine a sua casa dos sonhos. Dentro dela, tudo o que você mais gosta. Nada falta, tudo é limpo, bom e bonito, confortável, seguro. Respire fundo e sinta a sensação de bem-estar ao chegar em casa. A paz, a certeza de poder ser você, sem ninguém para te julgar, sem satisfações a dar. Sinta-se no lar.
Esse lar que te traz todas as sensações boas que você almeja sentir na vida. Um lugar onde você tenha segurança e acima de tudo felicidade, muita felicidade. Tudo está posto de acordo com o seu gosto, e só você domina esse lugar.
Imagine e sinta-se lá, no lar. Sinta-se fazendo algo que você gosta. Não tem ninguém te vendo, nem te exigindo nada. Também não há culpa, porque lá, você é você, e não há erro em ser quem você é.
Agora, depois de imaginar, você seria capaz de me dizer o que sente quando está em um lar? Quais sensações passaram por você no momento em que a imagem estava mais viva? Para mim, foi liberdade e paz. E o desejo intenso de que essas emoções não apenas passassem, mas que elas permanecessem. Me pergunto quantas vezes já me senti em um lar na minha vida, e em quais ocasiões isso aconteceu.
Um lar me remete muito à segurança, estabilidade, estrutura e confiança. Uma pessoa sem um lar tem muito o que temer e também muito com o que se preocupar. Mas a pergunta que surge em seguida é: O que é um lar? Uma casa, uma barraca, a marquise de um prédio, uma calçada ou apenas um local coberto onde a pessoa possa se abrigar embaixo?
Penso que nenhuma das respostas. Um lar é onde nos sentimos nós mesmos, sem culpa. E muitas vezes, não conseguimos nos sentir assim nas estruturas físicas que nos abrigam.
Um lar é onde a paz habita e nem sempre há paz nas moradias, muito menos liberdade. Se você perguntar para um nômade ou um eremita, o que é o lar dele, o que será que ele diria? Duvido muito que ele lhe daria o endereço de um condomínio em algum bairro de uma cidade qualquer.
E sabendo que assim como eu, tudo um dia vai apodrecer, se acabar e morrer, tenho a impressão de que o lar, é qualquer lugar onde eu possa estar. Porque se tem uma coisa que não muda de endereço é esta consciência que vos escreve. Já mudei de casa diversas vezes na minha vida, já tive que recomeçar em diferentes lugares, mas a única coisa que não mudava, era ela, essa voz que fala ao coração, esse olho interno que observa tudo, se incomoda e se inconforma com as coisas que vê.
Estou comigo o tempo todo, e não posso chamar de lar um lugar onde eu não possa estar por completo, onde eu não possa ser. E se o local onde eu me encontro, não me permite exercer minha verdade em plenitude, então que eu amplie meu conceito de lar, para que assim, por onde quer que eu vá, eu possa me sentir em casa.
E para se sentir em casa, a gente tem que ser bem recebido, abraçado, aceito, sem críticas e julgamentos. E se eu não sou capaz de me sentir bem-vindo dentro do meu próprio corpo, onde mais eu poderei ser?
Isso me faz lembrar de que não finalizamos nosso exercício de imaginação, porque você também precisa ser bem recebido lá, no seu lar. Por isso, peço agora para você se imaginar chegando à porta da sua casa dos sonhos, aquela que você imaginou no início do texto.
Lá, de braços abertos, te esperando com toda a dedicação, cheia de bons desejos por você e morrendo de saudade, está a pessoa que você mais ama no mundo. Aquela que te apoia em tudo, que sempre esteve ao teu lado para o que der e vier. Você corre para o abraço dela, porque lá você sabe que vai se sentir em casa.
Permaneça nesse abraço o tempo que precisar, inclusive, recomendo que você more nele. Enquanto isso, eu sigo aqui, construindo meu próprio lar, e desejando, do fundo do meu coração, que a pessoa que você imaginou te esperando na porta, tenha sido você mesmo.
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