Começos e o medo da página em branco
Há dias em que tenho um pouco mais de dificuldade para criar um texto, não tenho ideia sobre o que quero escrever. Em momentos como esse, costumo colocar na página o que vier à mente, qualquer coisa, qualquer bobagem, sem filtros. Começo escrevendo sobre a vontade de compartilhar algo que eu ainda não sei bem o que é. Escrever sobre querer escrever.
Em outros dias, eu até tenho um tema, mas não sei muito bem como abordá-lo ou o que eu gostaria exatamente de dizer sobre ele. Então faço o mesmo exercício, começo redigindo sobre o desejo de escrever sobre aquilo. Depois vou admitindo que não sei o que falar sobre, mas que gostaria de criar algo legal, e aí começo a preencher a página com coisas que eu sei ou penso sobre o assunto. Quando dou por mim, uma palavra após a outra, uma frase atrás da outra, tenho um texto pronto sobre algo que eu pensava não ter nada a dizer a respeito.
Essa é uma técnica que eu fazia de forma inconsciente já há algum tempo, mas depois que percebi a utilidade dela no meu dia-a-dia, comecei a usá-la de maneira propositada e isso mudou a forma como eu crio. Tirou da minha frente o medo da página em branco e me faz evitar perder tempo pensando sobre o que escrever. Descobri que posso pensar sobre o que escrever enquanto escrevo.
Percebi que existe um fluxo de energia, ou pensamento, que guia a criação dos meus textos. Eu só preciso deixá-lo fluir. Isso me faz pensar se, na vida, as coisas não acontecem exatamente da mesma forma. Lembro de quantas vezes desejei, do fundo do coração, criar coisas novas, começar projetos pessoais, mas nada saía da imaginação porque eu não me movia. E não me movia porque esperava o momento ideal, a situação ideal.
Como se fosse um texto, eu esperava as palavras certas para poder começar a escrever minha história. Mas me parece que o momento ideal, as condições ideais, nunca irão chegar. Principalmente se você, assim como eu, for um perfeccionista doente. A gente sempre vai achar que falta alguma coisa, mesmo que já estejamos vivendo o que um dia foi o nosso sonho.
Me parece que o que a vida pede da gente é movimento em direção àquilo que a gente sonha. O menor movimento possível. E para isso, você não precisa saber qual será o próximo passo, só precisa dar o primeiro, porque a estrada é igual a criação de um texto que você não sabe muito bem como vai terminar, mas que ele vai nascendo a cada nova tecla que você toca.
Talvez, para iniciar aquele projeto que a gente tanto sonha ou aquela mudança de vida que a gente tanto almeja, não precisemos de um plano tão perfeito assim. Talvez a gente só precise se movimentar, parar de pensar tanto e começar a agir, do jeito que der, da maneira que a gente puder.
E eu sei que para isso é preciso deixar algumas coisas para trás, como o medo de parecer bobo, primeiro para si mesmo, depois para os outros. O receio de parecer um iniciante escrevendo coisas sem sentido em uma página. Fazer isso enquanto se escreve um texto pode até ser fácil, já que ninguém vai ler todas as bobagens que você escreveu antes da edição final.
Outra coisa é você abrir o negócio dos seus sonhos; iniciar de novo uma atividade física depois de todo mundo já ter te visto desistir várias vezes; começar um curso novo e abandonar no segundo semestre; ou começar a se planejar para largar o emprego e viver do que você ama, sem saber muito bem se o que você ama vai conseguir te suprir em termos financeiros.
Mas me parece que não há outra saída a não ser enfrentar o medo de tudo isso. Essa é a sua página em branco, perca o medo de rabiscá-la. Qualquer palavra errada pode ser corrigida, qualquer frase mal escrita vai estar te ensinando.
O medo só vai estar junto com você até o momento em que você começar. Depois do primeiro passo você ganha mais confiança para dar o segundo. E não importa muito se você não sabe como vai dar os próximos; o importante é saber o tema do que se quer escrever. E o tema é o teu sonho, a tua meta. Se você tem uma, nada consegue te parar, se assim você determinar.
Quando você se coloca em movimento, as coisas acontecem. Os próximos passos vão vindo até você. A vida vai trazendo exatamente o que você precisa para te ajudar a escrever a tua história, assim como uma palavra atrás da outra foi criando este texto. No início, eu não tinha a menor ideia do que iria escrever, mas foi só começar para poder perder o medo da página em branco.
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