Analgésicos e as teclas do meu teclado

 



Há alguns anos, escrevi um texto no meu blog em que eu compartilho sobre a sensação de sobrevoar as coisas, de se sentir um pouco dormente diante dos acontecimentos, não de forma negativa, mas sobre ser um observador de si mesmo e da vida que se tem. O título do texto é Dias de Analgésico, porque essa é uma sensação que me era muito familiar quando eu tomava remédios para dor de cabeça.

É como se a minha mente se distanciasse e perdesse a identificação com os problemas, como se ela apenas os observasse. Hoje me sinto exatamente como me descrevi naquele texto, e não precisei tomar analgésicos para isso, só tive que chorar.

Chorei, não por tristeza, mas por ter compreendido certos aspectos em mim; por ter encontrado um lugar de amor bem no centro do meu peito, do qual eu estava um pouco desconectado desde ontem quando me deixei levar pelos problemas que eu estou vivendo.

Depois do efeito analgésico que parece ter o choro, me vem essa sensação, onde observo a vida como se olhasse as teclas do teclado em que escrevo agora, de cima. Onde cada tecla, quando pressionada em uma determinada ordem, provoca o nascimento de uma palavra, e cada palavra, em sequência, cria uma frase, e as frases criam este texto.

E esse vislumbre, me traz as pistas dos porquês por trás de cada acontecimento na minha vida. Até mesmo daquelas pequenas coisas que chegam a me perturbar no dia-a-dia. É uma sensação boa, me deixa em paz. Escrevo este texto em paz, mesmo cansado por problemas antigos.

Queria que essa sensação durasse mais tempo, queria ficar assim para sempre (eu e o meu desejo de estabilidade). Não queria mais me perturbar pelas preocupações que chegam até mim. Não queria mais me deixar desesperar quando alguns fantasmas tentarem me atormentar, mesmo hoje em dia, quando nenhum deles está mais vivo.

Mas eu sei que em alguns momentos essa instabilidade vai tentar se instaurar novamente, porque ela é o resultado de anos vivendo sob um condicionamento mental. E não sei você, mas é péssimo quando a gente se encontra vítima da própria mente. Nossa visão fica turva e parece não haver solução para os problemas, a perturbação mental toma conta das emoções.

A ansiedade fala alto e a mente fica criando situações absurdas, e o pior é que você tem uma tendência enorme a acreditar nelas. Mas com um pouco de experiência e auto percepção, você percebe que são apenas pensamentos, e pensamentos não são reais desde que confrontados com a razão.

Quanto do que a minha mente cria é real? Quanto daquilo tudo que penso pode realmente acontecer? E porque me preocupar com isso agora, já que o que eu tenho de concreto para fazer é escrever este texto?

Nessas horas você percebe que o efeito do analgésico, você encontra quando aprende a silenciar a mente, e o comprimido para isso, é a razão.

Nossas preocupações moram sempre no futuro e refletem nossa dificuldade em confiar. Confiar na vida, que somos nós. Em saber que se está fazendo tudo o que se pode e da maneira que se pode, e aquilo que não depende de você, resolvido está.

Então, só resta confiar e aceitar de bom grado tudo o que lhe acontece, porque os problemas que nos alcançam são como as teclas do teclado onde escrevo agora. Quando tocadas uma após a outra, em uma sequência específica, elas criam palavras. Estas, por sua vez, quando colocadas em uma determinada ordem, criam frases, que quando seguidas por outras, criam um novo rumo para a sua vida.

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