Amar a mim como a ti mesmo

 





Hoje eu passei creme no rosto, tomei um banho demorado, me perfumei, hidratei o cabelo e o corpo, e repeti três vezes na frente do espelho “eu me amo”. Mas a sensação de inferioridade não foi embora.

E quando alguém me rejeitou, eu fiquei tentando provar o meu valor para a pessoa, mesmo sabendo que não convenço ninguém de nada. Quando me pediram, por favor, para eu servir de acompanhante em um rolê que eu não gosto só porque a pessoa não queria se sentir sozinha, eu fui.

Quando me imploraram, quase de joelhos, para fazer um favor rapidinho que envolvia o meu trabalho e que portanto deveria ser pago, eu também fiz, mesmo odiando, mesmo tendo que lidar com várias alterações depois, e de graça. Me pergunto onde está o amor próprio nessas horas.

Me pergunto quem eu seria se eu me amasse de verdade. Quais seriam as palavras que eu falaria para mim mesmo. Se continuaria me julgando por situações ainda lá da infância, ao invés de aceitar meus erros com carinho porque quando criança estamos todos aprendendo e não existe aprendizado sem erro.

Me pergunto se eu entenderia que hoje, mesmo eu achando que estou muito melhor do que já fui um dia, aceitaria que continuo errando, só que errando diferente, e ainda assim aprendendo. E vai ser assim até o meu último dia neste planeta.

Se eu me amasse de verdade, a dor seria apenas uma bússola para me dizer onde eu não deveria ir. A tristeza seria um sinal vermelho para o que ainda não consigo enxergar em mim, e a alegria e o prazer seriam o combustível para qualquer decisão que eu tivesse que tomar na vida.

Se eu me amasse de verdade, o meu corpo não seria um problema e eu não neglicenciaria a sua saúde. O trataria com carinho e jamais o compararia com o de ninguém. Meu jeito de falar, meu cabelo, meu andar e minhas marcas na pele seriam registros da minha história, da minha verdade.

Se eu me amasse de verdade, eu faria mais do que eu gosto de fazer e me preocuparia menos com aquilo que não consigo controlar, aceitaria o fato de que muito pouco depende de mim.

Se eu me amasse de verdade, eu perderia menos tempo criticando os outros porque estaria ocupado demais buscando me aperfeiçoar, e entenderia que como eu, o outro tem os motivos dele, e a dor dele não é menor do que a minha.

Eu entenderia que eu não tenho todas as respostas e não preciso tê-las. Só preciso seguir em frente. Buscaria adquirir mais confiança em mim mesmo, e só em mim, para poder andar no mundo sem certezas nenhuma a não ser a de que eu estou comigo em qualquer situação, sempre e sempre.

Se eu me amasse de verdade, passar creme no rosto e repetir frases motivacionais na frente do espelho seria a última das minhas preocupações. Eu descobriria que não adianta procurar e esperar que ninguém me traga a satisfação e o bem estar que eu acho que vou encontrar no outro.

Porque todo mundo passa, assim como tudo na vida. Tudo vai embora, e eu permaneço comigo. Aqui e em tantas quantas vidas ainda terei de viver. E na eternidade terei que me perdoar sempre, porque lá, a consciência não morre nunca, não importa o delito, não importa a questão. Afinal de contas, para que querer amar o próximo se eu não consigo amar nem a mim mesmo.

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