Outra pessoa no meu lugar
Meia hora sentado no canto do quarto pensando na minha vida, ou na falta dela. No quanto eu realmente vivo e no tanto que eu apenas sobrevivo. No esforço que eu faço para me manter saudável e otimista, com a esperança em dia.
Meia hora pensando no que poderia ter sido diferente, se eu tivesse agido diferente, e se eu poderia realmente ter agido diferente. Nesses momentos me culpo por tudo e assumo uma responsabilidade que, ao invés de me fazer agir, me paralisa. Meu ego é sadomasoquista.
Me pergunto o que outra pessoa faria no meu lugar. Penso que muito pelo o qual sofro não seria um problema para ela. E aí quero diminuir minhas queixas e meu incômodo, quero dizer que o que sinto é menor porque tem muita gente sofrendo coisas piores por aí. O problema é que quando faço isso, ignoro quem eu sou, e ignorar quem a gente é, nunca é uma boa escolha.
E quando ignoro quem sou, ignoro também o incômodo, tento camuflá-lo com positividade. Mas sem incômodo, não há avanço. E ela, a outra pessoa no meu lugar, como ela agiria agora? Será que lidaria melhor com meus pais, com a falta de grana, sairia mais com meus amigos, seria mais enérgica, entusiasmada e persistente? Fico imaginando.
Talvez a outra pessoa revirasse os olhos e dissesse que eu estou exagerando, fazendo tempestade em copo d’água, sendo mimado e infantil. Outra pessoa no meu lugar, talvez não achasse nem mesmo difícil o que eu chamo de sofrimento. Talvez risse da minha cara se eu lhe contasse as aflições que passam pela minha cabeça. Mas isso, sou eu projetando minha auto exigência na outra pessoa.
E quão inútil é tentar adivinhar o que outra pessoa faria no meu lugar, porque ela sempre faria diferente. E por mais que eu tentasse, lá atrás, faria tudo sempre igual. Eu não sabia ontem o que sei hoje, e não sabendo o que sei hoje, não havia possibilidade de nada ter sido diferente. Fácil escrever, difícil aceitar.
E a fantasia da outra pessoa no meu lugar segue me torturando porque a comparação é a pior das formas de avaliar a si mesmo, e eu já falei que meu ego é sadomasoquista. Outra pessoa no meu lugar teria outra forma de enxergar a vida, uma outra configuração interna. E para que outra pessoa aja exatamente como eu, só se ela fosse eu.
Me pergunto quantas fui a outra pessoa na vida de alguém. Aquela que julga sem conhecimento nenhum de causa, que diz “se fosse comigo”. Aquela que coloca os seus sentimentos e julgamentos acima da experiência do outro para opinar sobre a vida que só o outro sabe como é. E agora me pego aqui, tendo que enfrentar a consciência de lidar com a vida que só eu sei como é.
Só eu sei como é viver na pele de Walter e o quanto de esforço essa pele me demanda. A outra pessoa sempre será a outra pessoa, e é justamente por isso que não há nada de errado em me sentir da forma que eu me sinto e pensar da forma que eu penso, sofrer pelo o que sofro.
E isso não quer dizer que eu deva me acomodar, nem assumir minhas incapacidades, mas entendê-las como parte de quem eu sou, e aceitar quem eu sou. Porque no meu lugar, qualquer pessoa seria outra pessoa, menos eu.
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