Não desista do propósito
Hoje eu estava lendo um texto que escrevi em dois mil e vinte. Me surpreendi quando percebi que eu estava gostando do que lia, quando me peguei sentindo carinho pelo cara que escreveu aquilo há três anos, quase agradecendo a ele por não ter desistido.
Gostei do fato de não ter parado de escrever naquela época, mesmo sendo sempre tão duro comigo, mesmo sem saber o propósito de eu gostar de me expressar desta maneira. Isso me fez pensar no que sinto agora, na onda de cansaço e desânimo que se abateu sobre mim nos últimos dias.
E se eu desistisse de tudo hoje? Se eu apenas entregasse todos os pontos e menosprezasse toda a caminhada até aqui? Se eu decidisse ir fazer outra coisa da minha vida e nunca mais pegasse em uma folha de papel para escrever e desenhar? Se eu decidisse nunca mais me expressar da forma como me expresso?
A sensação que tenho é de que em algum momento lá no futuro, eu mais velho, maduro e com um olhar ainda mais carinhoso e sábio sobre mim mesmo, me arrependeria gravemente de ter parado de escrever e abandonado meus sonhos.
Porque eu olharia e veria que meus textos nem eram tão ruins assim, na verdade, eles eram muito bons. Que meus desenhos, ao invés de tortos e nada populares, eram sim muito bonitos e expressavam tudo o que eu sentia naquele momento, e por isso tão bonitos, sinceros, e necessários. E quem se importa se não são populares? Emocionaram e ainda emocionam a mim, e isso é o que importa.
E eu nunca saberia quais caminhos se abririam na minha vida, ou as pessoas que deixariam de receber aquela frase que elas estavam precisando, e que chegou no momento certo, na hora certa, simplesmente porque, em algum momento do passado, eu insisti em escrever um texto ou terminar um livro. Afinal de contas, não sinto tudo o que sinto sozinho.
Eu jamais saberia quem eu poderia ter sido. E eu ainda posso ser muita coisa, porque ainda não desisti. Mas todo dia a dúvida bate à porta e me faz questionar: o que é que eu tô fazendo da minha vida?
A única coisa que eu sei é que lá no futuro, não quero olhar para trás com remorso no coração por não ter ousado ser quem eu realmente sou, por não ter feito o que eu quero fazer.
Vencer a luta mental não é fácil; minha mente aprendeu a me menosprezar e me colocar para baixo. Quebrar esse ciclo é difícil e me exige coragem. Mas então eu lembro, e faço questão de lembrar, dos tantos momentos em que já me permiti ser corajoso em minha vida, e eu o fui muitas vezes.
É só que à medida em que eu crescia, mais me preocupava com o que pensavam de mim. E a busca por dinheiro me fez querer pensar demais no que pensavam de mim. E quando a gente pensa demais no que pensam sobre a gente, a gente deixa de avançar em direção aos nossos sonhos.
A gente começa a insistir em coisas que não era para estar insistindo, e na vida, a gente tem que aprender a desistir de algumas dessas coisas para poder insistir em outras.
E agora estou aqui, escrevendo este texto em uma sexta-feira à tarde. E essa é a única coisa que me deixou realmente feliz nos últimos dias, capaz de tirar lágrimas dos meus olhos agora.
Sem dinheiro, quase sem poder de ação, e ainda me perguntando o que é que eu tô fazendo da minha vida. Mas ainda assim, neste momento, teclando letra por letra, colocando uma palavra atrás da outra, todo o universo parece estar de acordo, certo, tudo no seu devido lugar, porque eu estou exatamente onde eu deveria estar, fazendo o que de melhor sei fazer.
E o eu do futuro, faço isso por você. O eu do passado, faço isso por você. Ajudo os dois, como posso, da forma que posso, e me desculpem se por vezes fraquejo e penso em parar, é que viver exige muito da gente, e tem dias que eu desmorono mesmo, mas é só questão de tempo para eu me erguer e a vida começar a entrar nos trilhos novamente.
Talvez ser feliz não seja mesmo a questão da coisa. Talvez a vida seja mais sobre continuar, apesar de tudo. E o propósito, o propósito é ser exatamente quem você é.
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