Você nem é isso tudo

 



Quando eu ainda tinha um perfil pessoal no Instagram, um dia resolvi fazer uma limpa e saí parando de seguir muitos perfis, gente que já não fazia mais sentido estar ali por N motivos, um deles porque eu já não tinha mais interesse no conteúdo que a pessoa postava.

E entre criadores de conteúdo famosos e anônimos, colegas e conhecidos, parei de seguir vários. Dias depois, uma garota, que eu conheci por intermédio de uma amiga, devido a trabalhos que fizemos juntos, veio tirar satisfação comigo, me perguntar se eu tinha parado de segui-la.

Fiquei surpreso com a pergunta, não esperava que as pessoas levassem tão a sério seus perfis nas redes sociais. Falei que sim, tinha parado de segui-la sim, tinha feito uma limpa no Instagram e o perfil dela foi junto com os outros, não via mais sentido em segui-la.

A moça ficou desconcertada diante da minha sinceridade e não soube o que dizer, disse que só queria saber mesmo. Depois disso, nos vimos pessoalmente em outra ocasião, e nos tratamos bem, afinal de contas, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Esses dias, uma amiga foi acusada por uma pessoa de estar tentando imitá-la nas redes sociais por compartilhar os mesmos posts que ela (Oi?) e usar frases de música e trechos de livros nas suas postagens, que diga-se de passagem, não eram os mesmos que a pessoa compartilhava.

Mas parece que a pessoa em questão pensava ter inventado a fórmula selfie no espelho mais frase motivacional. Além de que, minha amiga, supostamente estava usando uma hashtag que essa pessoa e mais todo o planeta usa. Provavelmente a pessoa acha que patenteou a hashtag e o compartilhamento de posts.

Problemáticas a parte, fiquei refletindo sobre como na falta de um conhecimento mais profundo de nós mesmos, acabamos procurando preencher esse vazio de identidade em qualquer coisa que nos dê a ilusão de que somos amados. E ilusão é algo gostoso demais.

Você para de seguir alguém no Instagram e a pessoa sofre horrores se perguntando o porquê do ego frágil dela, que parece tão grande e forte nas fotos que ela posta, agora está se sentindo menos amado, menos desejado, menos qualquer coisa.

E entre perfis com milhares de seguidores, vídeos curtos vistos aos montes, selfies motivacionais na frente do espelho, compartilhamentos de ódio, looks do dia e tour pelas casas milionárias repletas de vazio, o que parece gritar é tudo aquilo o que justamente não somos.

Um milhão de seguidores no Instagram ou os dez parentes que te seguem por consideração. O armário cheio de roupas ou as duas únicas peças bufentas que você tem que revezar dia sim, dia não.

A harmonização facial ou as marcas de rugas no rosto. Os dentes ofuscando de tão brancos ou o sorriso amarelo precisando de reparo. O carro na garagem ou as moedinhas para contar a passagem do busão. A conta cheia (ou vazia) no banco. As dores que você sente.

A decepção do mês passado. A decepção de hoje de manhã. A raiva do partido oposto. A tristeza pelo o que não conseguiu. A alegria pelo o que conquistou.

O medo de não conseguir. A arrogância de achar que já conseguiu. A depressão que você não entende. A sua conta no Instagram. Você nem é isso tudo.

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