Aprendendo a navegar

 



Hoje o tempo tá parado por aqui. O céu está bem azul, nuvens brancas por todo o horizonte, mas até elas parecem ter decidido não se mover. Não sopra um vento. O clima abafado toma conta de tudo e ainda não é nem meio dia.

Hoje um amigo me enviou uma mensagem dizendo que ele tá meio assim “sei lá”. Que as coisas não estão ruins, mas também não estão boas. O tempo também tá parado pra ele.

Nessas fases, a gente até tem um céu azul de fundo, mas não tem o vento a favor.

A gente até reconhece todas as coisas boas que temos na vida, mas a sensação é de estagnação. Não importa o esforço, o barco parece não sair do lugar.

O que nos resta é esperar o clima mudar, porque com a natureza a gente não pode. E não poder é frustrante. Não poder mostra nossa incapacidade e confronta a ideia do coach do Instagram que me disse que eu podia ser tudo o que eu quisesse ser.

Mas, ou eu interpretei errado o que o coach disse ou ele me esqueceu de dizer que tem horas em que a única coisa que a gente pode fazer é um grande e absoluto nada.

Passei por uma longa fase na minha vida em que eram dias e dias pensando em tudo o que eu queria fazer e nunca começava. Em parte porque o fantasma de tudo o que deixei inacabado lá atrás, ainda me atormentava, me recusava a encarar as experiências do passado como aprendizados, só as via como fracassos. E também por medo de me ouvir.

Eu já sabia o que eu queria, eu sempre soube, mas ainda arrastava uma âncora de sentimentos e crenças que impediam meu barco de navegar. Nesse período, eu costumava torcer para que uma tempestade de verão aparecesse na minha vida, tirasse tudo do lugar, e me obrigasse a organizar tudo de novo.

Esperava que viesse de fora um movimento que só eu poderia fazer, mas para o qual eu ainda não estava pronto. Eu só não entendia isso naquela época, e me culpava, afinal, as coisas só dependiam de mim, não foi isso o que eu li outro dia em um livro de autoajuda?

Em tempos assim eu me irritava, o clima abafado me deixava impaciente, a luminosidade dos dias nublados incomodava meus olhos. Eu ficava querendo tomar uma atitude, fazer alguma coisa para que as coisas mudassem, para que o tempo voltasse a ficar a meu favor.

E a tendência é a gente se culpar, e a culpa paralisa. Eu não encontrava forças dentro de mim para fazer nada, porque eu me sentia culpado demais para agir e ansioso demais com o próximo passo que eu iria dar, porque na minha cabeça ele precisava ser o certeiro e o definitivo. E nessa eu escolhia me distrair com qualquer coisa menos urgente e necessária do que os meus sonhos, eu me deixava levar pelo medo de aceitar meus desejos.

Porque ser quem a gente é exige coragem, e a gente pensa que isso tem que acontecer no murro, no grito, no chute. E não é bem assim que as coisas funcionam. É aos poucos que a vida acontece, a natureza exige um tempo para se transformar e nós somos natureza, só esquecemos disso.

Um dia entendi que não adiantava lutar contra o que eu sentia. Se eu não sabia o que fazer naquele momento, então que eu sentisse esse não saber. Se eu não vivia a vida que eu imaginava, então eu iria viver a vida que dava pra ter.

As coisas ficam mais fáceis quando a gente dá tempo ao tempo. E dar tempo ao tempo significa dar tempo a si mesmo para se entender, se resolver, deixar para trás o sentimento que prende a gente. A âncora que faz a gente se sentir estagnado.

Há alguns meses resolvi focar no que eu realmente queria fazer. Não sei te dizer quando as coisas mudaram na minha mente e a coragem e a ação vieram. Simplesmente não sei. Elas apenas vieram. Acredito que chega um tempo em que a gente cansa, cansa de não fazer, e faz.

Mas até esse tempo chegar, muita mudança interna tem que rolar. E nem adianta querer apressar as coisas, corre o risco do barco naufragar, água parada também esconde perigos.

Se eu puder te dizer algo, digo o mesmo que respondi para o meu amigo na mensagem: Sinta esse incômodo por tudo o que você não consegue fazer agora, os incômodos também ensinam algo. Viva a incerteza e os questionamentos até o dia em que cheguem as certezas e as respostas. Um depende do outro para nascer.

Não esqueça que mudar de caminho, de opinião, de rumo, sempre são bem vindos. Mas também lembre de que no fundo a gente sempre sabe o que quer, só temos medo de admitir.

Dê-se o tempo da dúvida, que é o mesmo do amadurecimento e crescimento, e quando você menos esperar, vai perceber que tá um sol lindo lá fora e que o vento sempre esteve soprando a seu favor, e você nem percebeu.

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