Eu e os meus problemas

 



Quem você seria sem os seus problemas? Outro dia li essa frase em algum lugar na internet, não sei se no Pinterest ou no Instagram, mas ela tava por aí, solta em alguma imagem aesthetic. Naquele dia, ela me fez refletir. E hoje, que a insatisfação quis dar as caras por aqui, essa reflexão me veio de novo à mente.

Me pergunto quem seria eu sem essa pressa que eu tenho de fazer as coisas darem certo, sem essa vontade de chorar que bate quando penso nisso. Quem seria eu sem essa pressão que coloco em mim mesmo para criar algo legal, para escrever este texto e todos os outros que ainda tenho pela frente.

Quem seria eu sem a falta de dinheiro, sem o medo de um futuro incerto, sem as dívidas no banco. Quem seria eu sem o desejo de ter o novo iphone e a viagem que a agência de viagens me disse que seria a dos sonhos. Quem seria eu sem os meus desejos que mais me aprisionam do que me libertam.

Quem seria eu sem essa necessidade de ser lido, sem essa vontade louca de fazer minha voz ser ouvida enquanto eu ainda me sinto preso dentro de uma gaiola, procurando de qualquer maneira encontrar a chave que vai me fazer ser livre dela.

Me pergunto se eu deixo meus problemas me definirem, se quando muito envolvido pelas preocupações acabo dizendo que sou ansioso ao invés de tenho ansiedade. Porque quando me identifico com o problema, anulo todas as possibilidades de mudança, coloco nas mãos das circunstâncias o decreto do meu fim.

E se você nunca pensou sobre isso, te convido a fazer essa experiência. Quem seria você sem a relação tóxica que você insiste em carregar nas costas, sem o emprego que você odeia, sem o desânimo de uma faculdade que você não tem entusiasmo algum para frequentar? Quem seria você sem o medo que hoje te paralisa?

Refletir sobre quem eu seria sem as preocupações que hoje rondam a minha mente me faz visualizar a vida que eu quero ter. Me faz pensar na versão ideal de mim mesmo. Me faz querer usar melhor minha imaginação. Tento imaginar como eu agiria sem os problemas que tenho atualmente. Faço um esforço para tentar entender se eu não conseguiria ter esse comportamento agora, essa postura de quem não tem a mente anuviada pelas questões que me perturbam.

Mas isso não é algo tão simples de se fazer, até porque alguns problemas exigem soluções que não dependem apenas do nosso esforço, principalmente quando já nos esforçamos demais para sair deles. São soluções que exigem tempo para se concretizarem e que por sua vez pedem da gente muito autocontrole e maturidade para entender que tudo é processo.

Talvez a solução não esteja bem em se livrar dos problemas, mas passar a enxergá-los de uma outra forma, começar a tirar o peso que a gente coloca em cima deles. E me parece que a gente só consegue fazer isso quando passa a aceitá-los, não como parte de quem somos, mas como uma etapa no nosso processo de crescimento.

Mas se tem uma coisa que ficou comigo depois da reflexão que essa frase me despertou, foi o medo. O medo de descobrir que o maior problema não eram as coisas que me faltavam ou os defeitos das pessoas com quem eu convivia, mas sim, eu mesmo. Nesse caso, a pergunta talvez tivesse de ser refeita: Quem seria eu se eu me tirasse da frente dos meus problemas?

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