Tempo de colher ervilhas
Outro dia, assistindo a um vídeo sobre jardinagem, descobri que demoram de dois a três meses para poder colher ervilhas. Nesse dia, percebi o quanto o contato com a natureza poderia estar nos ensinando como lidar com a nossa própria vida. Percebi que a terra ensina também sobre paciência e sobre aceitar o tempo certo para as coisas acontecerem.
Você já imaginou, pegar as sementes, separá-las em um saco plástico com um pouco de algodão umedecido em água, esperar de uma semana a quinze dias para que as sementes germinam antes de colocá-las direto no solo.
Depois disso, preparar a terra, tirar as folhas secas em torno, pedras, galhos, fazer o lugar para cada semente, colocar uma por uma, criar algum tipo de proteção contra animais que possam acabar comendo as plantinhas ainda no início de seu crescimento e ir acompanhando a evolução delas. Em alguns casos, colocar alguns galhos fincados ao solo por onde a planta possa subir suas ramas.
Cuidados que eu nem sabia que eram necessários para se plantar um alimento, para só dali há mais ou menos dois meses, você conseguir colher as primeiras vagens do grão. E ainda tem o período certo para se plantar, não é em toda estação que a ervilha se dá bem, é preferível plantá-la no inverno.
Enquanto assistia ao vídeo me senti tão infantil. Por que eu queria tanto que as coisas corressem na minha vida? Por que mesmo eu queria tanto alcançar o que os outros chamam de sucesso no meu tempo, no tempo de um storie? Onde eu estava com a cabeça quando pensei que era só postar um vídeo, divulgar um texto, uma semana de newsletter e tudo isso aqui iria viralizar e fazer sucesso, quando na natureza uma ervilha demora de dois a três meses para poder ser colhida!? Porque eu reclamo tanto? E qual é o meu ideal de sucesso mesmo?
A semente obtém sucesso quando germina, ainda no algodão, ou só quando dá os primeiros frutos? O que é sucesso para mim?
Não sei onde vamos parar com essa corrida louca por algo que ninguém sabe o que é, com essa fé que depositamos no dinheiro e com o tempo de vida que matamos enquanto corremos atrás dele.
Só sei que o vídeo sobre jardinagem me ensinou mais do que qualquer coach vendedor de curso on-line poderia me ensinar em três horas de live. Penso que assim como na natureza, os planos também precisam ser colocados de molho por um tempo, acolhidos em algodão umedecido para a ideia poder germinar em paz, em silêncio, no escuro, no íntimo de cada um, e ganhar forma, antes mesmo de começar a ser posto em prática os primeiros passos para a sua realização.
Depois vem o preparo do terreno. Elaborar o projeto, estipular metas, limpar o que não faz sentido da ideia original, tirar tudo aquilo que pode impedir nosso projeto de ver a luz do sol, para só então plantá-la e enfim, esperar.
Esperar que a vida faça o papel dela, que é o de fazer prosperar aquilo que plantamos com amor. Já que com amor foi plantado, com amor também será colhido. E nosso papel é continuar regando as sementes, limpando os seus arredores para livrá-las de insetos, animais que possam comê-las. Sermos pacientes e constantes no que desejamos.
Pacientes para aceitarmos o tempo das coisas. Ansiedade e reconhecimento parecem não andar juntos. Talvez eu devesse assistir mais vídeos sobre jardinagem, talvez eu devesse pôr a mão na terra, começar a plantar as minhas próprias ervilhas e esperar elas brotarem, para eu não ficar achando que colher os frutos dos meus esforços seja tão fácil quanto comprar uma lata de ervilhas no supermercado.
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