Nota de um dia de lua cheia
Hoje é noite de lua cheia. E qual é o grito que eu guardo pronto para soltar? Qual é o medo que me impede de ser fera hoje a noite? Sete bilhões de pessoas no mundo, centenas morrendo de fome, centenas sem ter onde morar, milhares pensando em se matar e eu aqui sofrendo para espremer algumas palavas da minha mente e pô-las no papel. Porque meu sofrimento é assim pequeno, mas carrega de peso a minha alma toda. Tanto medo e insegurança que me imobilizam. Meu julgamento me torna juiz e réu de mim mesmo. Por que estou aqui? Para que nasci? Pelo o que me movo e pelo o que avanço? Por que levanto todos os dias? Porque decidi escrever todo dia um texto? Por que isso me dói tanto? Tudo o que é leve parece pesar uma tonelada. Uma carta para alguém próximo sairia mais fácil. Um texto para publicidade. Uma nota de falecimento. Ouvi dizer que a lua cheia é o momento de receber o que estávamos desejando na lua nova anterior, normalmente, seis meses antes. Eu mal sei o que to desejando agora, quanto mais o que desejava há seis meses? Provavelmente estava dopado por uma paixão desenfreada e idealizada. É lua cheia e eu não sei bem o que vai florescer de mim agora. Procuro deixar as respostas para as questões um pouco de lado e viver o que tenho agora: as perguntas. E apesar dos questionamentos, me sinto feliz, bem feliz. A lua me iluminando hoje a noite enquanto eu voltava para casa me trouxe novamente aquela sensação de liberdade, aquela força oculta que me empurra para frente e que me dá um impulso de querer engolir a vida de uma vez.