O conhecido que as noites de sábado traz
Um sentimento antigo acordou comigo hoje quando despertei de um sono cansado. Um sentimento conhecido dos sábados a noite, de quando me sentia tão sozinho e com tanta fome de liberdade. É uma sensação, um desejo e ao mesmo tempo uma calmaria que tem a ver com o vento das noites frescas. Na época em que esse sentimento me era presente, uma insatisfação com a minha vida habitava minha alma diariamente. Era um saco ter que viver insatisfeito o tempo todo comigo mesmo, minha casa, minhas amizades, minha vida. Eu estava sempre olhando para fora, procurando algo que eu só encontrei quando me voltei para dentro de mim. Eu vivia triste por não ter a vida que tanto idealizei. Mas mesmo em meio a tristeza e inquietação constantes, a essa busca meio cega pelo o que eu nem sabia direito o que era, eu ainda conseguia ser feliz de alguma forma. Hoje consigo enxergar que eu encontrava abrigo na minha solidão, que o mundo onírico em que eu vivia me permitia ser quem eu quisesse ser e me dava uma esperança mesmo que sofrida, de que tudo aquilo um dia iria passar, mesmo que aqueles dias parecessem eternos. Vai ver felicidade é uma forma de ver as coisas. Naquela época eu nem imaginava que um dia, hoje, iria sentir saudade daqueles dias. De quando junto a minha inquietação e inadequação eu conseguia fechar os olhos, sentir a brisa da noite tocar meu rosto no terraço da minha antiga casa e sonhar com toda a liberdade que a minha alma sempre teve, mas que tem sido conquistada a duras penas durante toda a minha vida. E hoje acordei novamente com esse sentimento, essa vontade de sair e andar a esmo pelas ruas, de explorar e conquistar o mundo inteiro. Mundo inteiro que se resume a vizinhança do meu bairro, mundo inteiro que vive mais dentro de mim do que fora. A diferença é que hoje em dia já não me detesto mais, já não tenho raiva dos meus pais pelas coisas que não me permitiam fazer, já não quero ter o que não tenho porque entendo que a felicidade não ta nas coisas que possuo, mas nas que vivo. Hoje já não sinto mais a necessidade de ter alguém para compartilhar minhas incongruências. Minha solidão se transformou no lugar onde me fortaleço e me encontro comigo mesmo. E eu aprendi a gostar de mim. Ainda quero a liberdade, ainda quero fugir e explorar o mundo, desta vez mais o interno do que o externo, mas essa busca não é mais um problema e já não há mais sofrimento. Meus amigos falam que eu vivo em mundo a parte, que crio meu próprio universo paralelo. Concordo com eles. Talvez a sensação de ser um estrangeiro nunca vá embora, daí a necessidade de criar esse lugar tranquilo, livre e selvagem dentro de mim, onde o conhecido e o familiarizado não passam apenas de um sentimento que eu sentia nos sábados a noite, mas que sempre vai me lembrar de quem eu sou.