Renato queria fazer um filme

Um filme sobre o menino que tinha o teto do quarto com vista para o universo, o todo que ele invadia sempre que ia dormir. Deitado na cama ele contava as estrelas que corriam sobre ele, tocava os mundos com as mãos e alimentava o universo que tinha dentro do peito com tudo o que podia fazê-lo expandir. Um filme sobre o menino que tinha o mar sob os pés e o céu dentro da cabeça. Tinha as mãos delicadas, os olhos doces e sempre molhados, um universo em cada um. Luas circulavam suas pupilas. Ele dançava de um lado a outro dentro si. E como em um sonho, todas as noites ele saía dele e partia para dentro dele mesmo, mergulhava em um mundo onde nada o poderia atingir, seus limites eram moldados pela sua vontade, e sua vontade era sempre tão boa e doce. Um filme sobre o menino que queria fazer um filme. Um filme para contar da vida que ele não mostrava para ninguém. Um filme para falar que existe mais dentro dele, dentro da gente. Um filme para mostrar imagens bonitas, de encher os olhos, para falar sem voz, para fazer entender sem explicar, para conectar sem precisar tocar, para aprofundar, não alargar, para se expressar, para salvar, a ele e a quem mais precisar fugir daqui.