Eu me imaginei diferente
Outro dia me peguei fazendo o exercício de me imaginar sendo outra pessoa. Nascido em outro lugar, com outra vivência, outros costumes, outra história, outra educação. Percebi o quanto minhas escolhas seriam diferentes, meus gostos, minha ideia de certo e errado.
E sempre que as minhas crenças me fazem torcer o nariz para qualquer pessoa que tenha um estilo de vida muito diferente do meu, ou qualquer outra coisa que eu julgue de forma negativa, eu tento usar a imaginação: E se eu fosse ela? Mas não eu sendo ela, e sim, ela, ela mesma, se eu fosse ela, exatamente com a mesma história dela, tendo vivido as mesmas experiências que ela viveu, tendo a mesma consciência que ela tem, eu realmente faria diferente?
O que me impede de me colocar no lugar de qualquer outra pessoa no mundo? O que me impede de sentir a culpa de alguém que perdeu tudo o que tinha por não conseguir se controlar diante de um vício, e acabou tendo que ir morar na rua? O que me impede de sentir a mesma sensação de humilhação e invisibilidade que uma pessoa sente catando comida no lixo, enquanto eu passo reto por ela?
Imaginação. Imagine-se onde quiser e logo estará lá, pense em algo bom, automaticamente seu corpo vai responder a isso. Lembre do pior momento da sua vida e você vai murchar aí mesmo onde está. Imagine um futuro brilhante para si, com tudo o que você sempre sonhou e você sentirá ele agora, lendo este texto. A imaginação é o começo de tudo. Tão forte que é capaz de te fazer sentir o que ainda nem existe.
É como quando você está no teatro e você pensa que a atriz fulana de tal está interpretando muito bem, a peça está incrível! Mas a imaginação de repente te puxa, e você se pega chorando porque a Julieta não podia ficar com o Romeu.
A imaginação te tira da realidade, mas ela também pode te tirar da ilusão que te faz pensar que tudo é uma ofensa pessoal. Ok, eu sei da empatia, mas para ter empatia é preciso primeiro imaginar.
Quero aprender a usar melhor a minha imaginação. Aprender com ela a me colocar no lugar do outro, quem sabe assim eu consiga ser menos injusto, menos reativo e mais compreensivo.
Quem sabe eu consiga usar minha imaginação a meu favor. Fechar os olhos e me imaginar de frente com o meu eu do passado, abraçá-lo e dizer que está tudo bem, que ele fez o que podia, que não existia certo ou errado, o que existia era o que dava para fazer, e o que dava para fazer, ele fez.
Talvez a gente precise de mais imaginação. Imaginação para se colocar no lugar do outro ou colocar a si próprio em outro lugar. Se visualizar com mais fé. Tentar imaginar uma versão melhorada nossa. Como eu seria se eu fosse melhor do que sou agora?
E quem sabe assim a imaginação vá expandindo seus campos, ganhando força, e como um primeiro passo, consiga impulsionar os próximos, até que um dia se torne real.
Mais imaginação, por favor! Imaginação para visualizarmos onde queremos chegar, para compreendermos melhor o outro e para entendermos que a gente sempre pode ser diferente.
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